domingo, 15 de novembro de 2009

Memento Sincrético (trecho)

Arraia - Gil Freitas

Memento Sincrético ou Melleril nos quadros de Dissociação de Personalidade : Um retrospecto de seis anos de Arte Sincrética – ou enlevando a automedicação de uma forma cínica classica questionando a hipocondria e a dependência contemporanea. Por Gil Freitas, Souniery Soulemont, Devarnier Hebbadom, Mario Britto. Soterópolis, ago. 2009.


" A tempestade aí está, os mares selvagens saltam para a terra, para destroçar os grossos diques. A maioria dos homens tem um defluxo. Os trens de ferro despenham-se das pontes." (Jakob van Hoddis, in Demokrat, 1911)

Evoquemos antes de começar, as palavras aladas que belamente Baudelaire inscreveu em nossos encefalos em sua Correspondence por volta de 1855: "A natureza é um templo em que vivas pilastras/deixam sair às vezes obscuras palavras/O homem a percorre através das florestas de símbolos/que o observam com olhares familiares/Como longos ecos que de longe se confundem/numa tenebrosa e profunda unidade/vasta como a noite e como a claridade/os perfurmes, as cores e os sons se correspondem…"
Já se foram 2190 dias desde a primeira hora do A.S. e o sentimento que tenho é o mesmo dos Futuristas diante toda a responsabilidade que sua contemporaneidade exigia "… um imenso orgulho enchia nossos peitos, ao nos sentir os únicos em pé, como os faróis ou como as sentinelas avançadas, face ao exército de estrelas inimigas que acampam nos seus bivaques celestes…" (F.T. Marinetti - 1909), e nós Sincréticos, o tempo passado, forçados somos a novos voôs em novas esferas, porque passamos todos esses dois milhares de dias propondo a panacéia definitiva para todos os males em muitos lugares, conseguindo expandir nossas ações muito além dos limites da Vila Velha de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, extasiada que é com suas miçangas e todo o onanismo fastidioso de sua pseudo intelectualidade brejeira mezzo mulato isoneiro e celebridades de meia pataca exibindo uma aparente sofisticação em si mesma patética. "Dissimular o estado de decadência em que chegamos seria o cúmulo da insensatez. Religião, costumes, justiça, tudo decai, ou logo sofre uma transformação inelutável. A sociedade se desagrega sob a ação corrosiva de uma civilização deliquescente. O homem moderno é um insensível. Afinamento de apetites, de sensações, de gosto, de luxo, de prazer; nevrose, histéria, hipnotismo, morfinomania, charlatanismo cientifico..." (Verlaine) faço minhas essas considerações do Mestre Decadentista que também é mestre destes pueris postulantes a doutores da arte, que me parecem ainda perdidos com seus "Deveres de Casa" muito bem orientados por seus não-professores/artistas/célebres. "A arte era um jogo de avelã, os meninos juntavam as palavras que têm um toque de sino no fim, depois choravam e gritavam a estrofe, e lhe metiam as botinas das bonecas e a estrofe se tornou rainha para morrer um pouco e a rainha se tornou baleia, as crianças corriam até perder o fôlego..." (Tristan Tzara. Manifesto do Senhor Antipirina, 1916). Tenho uma impressão que tudo é produzido, conceituado para um estado de distanciamento ou como preferem um estranhamento, um deslocamento do ser com relação a si mesmo e ao todo, perdendo assim uma visão mais ampla da existência, me parecendo proposital a aplicação de uma antropotecnica (como diria Harbemas) cretina de autoanulação. Ah! estranheza da arte que não proporciona nada além de algo análogo ao quadro dissociativo de personalidade (é o que faz os equizofrênicos interiorizados em sua própria realidade fragmentada). Lembrei-me de ter lido uma conferência de Aldous Huxley para a alunos da Faculdade de Medicina da California em San Francisco no ano de 1961 "Na próxima geração se fará um método farmacológico para fazer as pessoas adorarem sua escravidão e produzir a ditadura sem lágrimas por assim dizê-lo. Produzir uma classe de campo de concentração sem dor para sociedades inteiras de modo que as pessoas de fato terão sua liberdade quitada de si, pois a desfrutaram bastante, porque serão distraídos de qualquer desejo de reberlar-se pela propaganda, ou a lavagem cerebral, a lavagem cerebral reforçada por métodos farmacológicos. E isto parece ser a revolução final." e penso em todas as conexões possiveis que tudo isso pode ter, mas, o que penso no meu íntimo não vem ao caso, me vem a mente agora Bergson e sua observação sobre o objeto da arte " O objeto da arte é adormecer as potências ativas a mais bem resistente de nossa personalidade, e conduzir-nos assim a um estado de docilidade perfeita onde simpatizamos com o sentimento" (Donnèes inmédiates de la conscience, pag 11) mas, não adormercer a ponto de salivar aos borbotões. Todas as razões expostas, não sei se de forma clara e, sinceramente, não me importo com isso, sei bem que somos uma sociedade avessa ao exercício do pensar. Exercemos nestes milhares de dias, nós os A.S. - Artistas Sincréticos, nosso papel de produtores de arte e aprendizes de seus mistérios sublimes, com ela nos tornamos maiores, mais vastos como diria Baudelaire, depois de tantas voltas em torno ao irmão sol e em tantas vezes que a bela Jaci revelava sua face para depois encobrir sob um véu de nuvens entremeado de longinquas rutilâncias, havia uma necessidade de repassar o dito e o concebido para uma devida correção de rota, avaliando erros e possiveis acertos, perceber distorções, desfazê-las, é preciso separar o joio do trigo num exercicio de autodesenvolvimento. É preciso falar das fases, dos estilos, dos conceitos, juntar as partes do corpo da obra que se espalharam ao vento, definí-los, colocá-los em seu devido contexto, alicerçando os fundamentos que nos norteiam a uma Utopia possivel de nossas mais elevadas aspirações.

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